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Foto do escritorRaíssa Ruperto

Nise da Silveira

Nise da Silveira foi uma médica e psiquiatra brasileira que nasceu em Maceió em 15 de fevereiro de 1905. Ela foi a idealizadora da Seção de Terapia Ocupacional e Reabilitação no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro, onde usava a arte e os animais como aliados no tratamento psiquiátrico. Ela foi inspirada pelo trabalho de Jung sobre o inconsciente e foi contrária a métodos agressivos como o eletrochoque. Ela foi uma expoente da luta antimanicomial no Brasil.

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Nise da Silveira teve formação católica na infância, estudando em um colégio de freiras em Maceió. Seu pai era professor de matemática e jornalista, e sua mãe pianista. Concluiu o curso de medicina em 1926 na Faculdade de Medicina da Bahia, sendo a uma das primeiras mulheres a se formar médica no Brasil.


Em 1927, Nise se mudou para o Rio de Janeiro e lá conclui a especialização em psiquiatria. Assim, começou a trabalhar no Hospital da Praia Vermelha, hoje Pinel, no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental, em 1933.

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Em 1935, durante o governo de Getúlio Vargas, uma série de revoltas lideradas pelo Partido Comunista Brasileiro explodiu pelo país. Como repressão o governo Vargas iniciou a perseguição não só a integrantes do partido, como também a intelectuais, escritores e artistas.


Nise foi presa pela primeira vez em 20 de fevereiro de 1936, por pertencer à União Feminina Brasileira, onde trabalhava como médica voluntária, e à Ala Reivindicadora dos Médicos. Presa pela segunda vez quase um mês depois, em 26 de março de 1936, a médica foi levada ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops) e depois transferida para o Presídio Lemos de Brito, na Rua Frei Caneca, onde permaneceu até 21 de junho de 1937, por um período total de 455 dias. Permanece na Casa de Detenção, onde conhece o escritor Graciliano Ramos (1892 - 1953), que faz referências a ela em seu livro Memórias do Cárcere.


Junto, à direita, além de uma grade larga, distingui afinal uma senhora pálida e magra, de olhos fixos, arregalados. O rosto moço revelava fadiga, aos cabelos negros misturavam-se alguns fios grisalhos. Referiu-se a Maceió, apresentou-se:

– Nise da Silveira.

Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi surpresa, lamentei ver a minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-a culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido criatura mais simpática. (Trecho de Memórias de um Cárcere, Graciliano Ramos).


Nise conta que foi denunciada por subversão por uma enfermeira que trabalhava com ela no Hospício Nacional. De fato, além de ser filiada ao Partido Comunista, ela tinha em sua biblioteca pessoal livros marxistas, que foram encontrados nas buscas em sua casa. Consta que a médica foi detida por

“Em 1936, início da Ditadura Vargas, uma enfermeira do hospital, percebendo na minha mesa, em meio a livros de psiquiatria, literatura, arte, livros sobre marxismo, que eu também estudava, denunciou-me à diretoria. Na mesma noite fui presa (...) Perdi o emprego e fiquei afastada do serviço público, obtido por concurso, durante oito anos, sob a alegação de pertencer a um círculo de ideias incompatíveis com a democracia. Eu tinha contato com o partido comunista, mas não era uma militante política ativa.”

Nise era filiada ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), tinha muitos amigos comunistas, mas não era atuante por não concordar com todas as ideias da turma.

“Minha experiência no partido não foi muito boa, não, porque eu sempre tive muita dificuldade de me acomodar em organizações. Talvez, por causa da minha vida de filha única, de menina rebelde, eu não me acomodava dentro dos esquemas do Partido Comunista… Os companheiros do Partido não aprovavam que eu me dedicasse tanto aos estudos, por exemplo”.

Em junho de 1937, Nise saiu da prisão, mas alguns meses depois, por causa da nova onda de censura, partiu para a Bahia e por oito anos viveu viajando. Passou por outros estados do Norte e do Nordeste do país, como Manaus, Maceió e Recife – onde se casou, em 1940, com Mário Magalhães da Silveira. Contudo, em 1944, volta à ativa como psiquiatra, no Centro Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro.

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Nise desenvolveu um importante trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro. Ingressou na instituição em 1944 e travou uma verdadeira luta contra os métodos violentos de tratamento que eram comuns na época. Por isso, foi redirecionada à área da terapia ocupacional, que era menosprezada no local. Foi assim que conseguiu aplicar em seus pacientes uma nova forma de cuidado mental.


Dessa forma, Nise da Silveira lança mão das teorias da psicologia de Carl Gustav Jung (1875-1961) e dos desenvolvimentos na área específica da teoria ocupacional para a recuperação dos doentes mentais. Enfatizando a importância do contato afetivo e da expressão criativa no processo de cura, ela abre uma série de ateliês - encadernação, música, modelagem, pintura, teatro etc. -, orientando os monitores a não interferirem na produção dos pacientes. Através da arte, transmitindo em cores, formas e símbolos os pacientes conseguiam exprimir as suas angústias mais profundas, o que mais tarde foi chamado de arteterapia.

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Inaugurado em 20 de maio de 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente foi fruto de seu trabalho no Centro Psiquiátrico Pedro II atual Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira. Um "centro vivo de estudo e pesquisa", na definição da médica, que reúne acervo das pinturas, desenhos e esculturas dos frequentadores do Setor de Terapia Ocupacional e Reabilitação - STOR, por ela dirigido entre 1946 e 1974.


O trabalho de Nise da Silveira à frente do Museu de Imagens do Inconsciente revela ao público uma série de artistas e obras de valor inegáveis, embora muitas vezes difíceis de serem classificados do ponto de vista do estilo. "Não sendo filiados a quaisquer 'escolas' ", afirma a doutora Nise, "nossos pintores passam da abstração ao figurativismo e vice-versa de acordo com sua situação face ao mundo externo e suas vivências internas".

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O Planetário de Deus, 1947 - Carlos Pertuis
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1958 - Fernando Diniz
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Universal, 1948 - Emygdio de Barros
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1958 - Fernando Diniz

As visitas regulares do crítico Mário Pedrosa (1900 - 1981) ao ateliê de pintura - levando até lá escritores e artistas como o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), os pintores Ivan Serpa (1923 - 1973) e Abraham Palatnik (1928), além do diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, Léon Dégand (1907 - 1958) - são responsáveis por uma série de exposições dos pintores do Engenho de Dentro.


Em 1947, o salão do antigo Ministério da Educação e Cultura recebe 245 trabalhos. Mário Pedrosa, em artigo publicado no Correio da Manhã, em sete de fevereiro de 1947, é enfático em relação à qualidade das obras: "(...) ninguém impede que essas imagens sejam, além do mais, harmoniosas, sedutoras, dramáticas, vivas ou belas, enfim constituindo verdadeiras obras de arte". Em 1949, nova mostra, desta vez no MAM/SP: 9 Artistas do Engenho de Dentro, reunião de trabalhos selecionadas por Dégand.


Em 1950, obras do museu são expostas em Arte Psicopatológica, no 1º Congresso Internacional de Psiquiatria, em Paris. Em 1957, Jung convida Nise para passar um ano estudando com ele no Instituto Junguiano e a expor o acervo do Museu de Imagens do Inconsciente no II Congresso Internacional de Psiquiatria. A médica passa um ano com Jung na Suíça e ganha projeção internacional. Na volta ao Brasil, Nise cria o Grupo de Estudos C. G. Jung no Rio de Janeiro, que coordenou até morrer, em 1999. Em 1957, é o próprio Jung quem inaugura uma exposição de pinturas de imagens do Museu do Inconsciente, no 2º Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique. O Museu de Imagens do Inconsciente continua existindo até hoje graças à "Sociedade dos Amigos do Museu do Inconsciente", à sua fama internacional e ao sucesso artístico de muitas obras e artistas.

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O êxito de seu trabalho com os doentes e a criação de uma equipe, levam-na a projetar a Casa das Palmeiras, inaugurada em 1956, para dar suporte aos egressos do hospital psiquiátrico. Nessa instituição independente de convênios, espécie de "território livre", a doutora Nise amplia seu método de trabalho, ancorado na atividade criadora, na articulação entre razão e sentimento, corpo e psique. Se a arte ocupa lugar central na prática terapêutica empregada, a intenção não é, nem nunca foi, segundo ela, produzir obras de arte nem artistas, mas oferecer caminhos para que os doentes exprimam seus conflitos internos por meio de uma linguagem simbólica.


Ademais, suas pesquisas deram origem ao longo dos anos a exposições, filmes, documentários, audiovisuais, simpósios, publicações, conferências e cursos tanto sobre terapêutica ocupacional quanto sobre a importância das imagens do inconsciente na compreensão do processo psicótico.


Algumas instituições criadas a partir do trabalho da Dra. Nise da Silveira

  • Association Nise da Silveira Images de L'Inconscient, Paris (França);

  • Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli, Gênoca (Itália);

  • Centro de Estudos Imagens do Inconsciente, Universidade do Porto (Portugal);

  • Centro de Estudos Nise da Silveira, Juiz de Fora (MG);

  • Museu Bispo do Rosário, Instituto Municipal Juliano Moreira, Rio de Janeiro (RJ);

  • Espaço Nise da Silveira - Núcleo de Atenção Psicossocial, Recife (PE);

  • Fundação Clube Terapêutico Nise da Silveira, Salvado (BA);

  • Núcleo de Atividades Expressivas Nise da Silveira - Hospital Psiquiátrico São Pedro, Porto Alegre (RS).

Essas são as obras escritas pela médica psiquiatra:

  • Jung: vida e obra;

  • Imagens do inconsciente;

  • Casa das Palmeiras. A emoção de lidar;

  • O mundo das imagens;

  • Nise da Silveira;

  • Cartas a Spinoza;

  • Gatos - A Emoção de Lidar.


Nise da Silveira faleceu no Rio de Janeiro em 30 de outubro de 1999, deixando um legado incrível para a psiquiatria no Brasil e no Mundo sendo um expoente no tratamento humanizado dos pacientes psiquiátricos.


Referências:


(1) Quem foi Nise da Silveira? - Revista Cult. https://revistacult.uol.com.br/home/quem-foi-nise-da-silveira/.

(2) Biografia de Nise da Silveira - eBiografia. https://www.ebiografia.com/nise_da_silveira/.

(3) Nise da Silveira – Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Nise_da_Silveira.

(4) Nise da Silveira: quem foi a psiquiatra brasileira que foi ... - BBC. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61603637.

(5) Nise da Silveira: quem foi, biografia, carreira - Brasil Escola. https://brasilescola.uol.com.br/biografia/nise-da-silveira.htm.

(6) Nise da Silveira - biografia da psiquiatra brasileira - InfoEscola. https://www.infoescola.com/biografias/nise-da-silveira/.

(7) Museu de Imagens do Inconsciente - Enciclopédia ItaúCultural

(10) https://www.instagram.com/casadaspalmeiras.nise/

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